domingo, 23 de setembro de 2007

Acerca deste blogue

Aviso: os textos publicados neste blogue são, maioritariamente, textos que gosto e com os quais me identifico. Não existem, até ao momento, textos da minha autoria. Quem sabe, talvez no futuro, me aventure nesta arte: a de escrever. Não tenciono fazê-lo agora, porque, como disse Rita Ferro Rodrigues, "É preciso viver para escrever".

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Segue o teu coração

"Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem. Lembra-te de que uma árvore com muita ramagem e poucas raízes é derrubada à primeira rajada de vento, e de que a linfa custa a correr numa árvore com muitas raízes e pouca ramagem. As raízes e os ramos devem crescer de igual modo, deves estar nas coisas e estar sobre as coisas, só assim poderás dar sombra e abrigo, só assim, na estação apropriada, poderás cobrir-te de flores e de frutos.
E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar."

Susanna Tamaro em "Vai Aonde Te Leva o Coração"

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O Sofrimento

"Franz tinha mais ou menos doze anos quando a mãe ficara sozinha com ele, porque um dia, inesperadamente, o pai tinha-se ido embora. Franz suspeitou que se estava a passar qualquer coisa de grave, mas a mãe disfarçou o drama com uma conversa neutra e ponderada para não traumatizar o filho. Foi nesse dia que, ao sairem de casa para dar uma volta pela cidade, Franz percebeu que a mãe tinha dois sapatos desemparceirados. Ficou aflito e quis preveni-la, mas teve medo de magoá-la. Passou duas horas com ela na rua sem conseguir despregar os olhos dos seus pés. Foi então que começou a fazer uma ideia do que devia ser o sofrimento."

Milan Kundera em "A Insustentável Leveza do Ser"

sábado, 15 de setembro de 2007

Adeus

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus."

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Tributo à Mulher

Não, não me cabe aqui revelar-nos.
Mesmo por que às vezes nem nós nos entendemos.
Choramos facilmente, rimos com o coração.
Nem sempre quando dizemos "não" significa que estamos a dizer "não".
Muitas vezes, quais crianças mimadas, só precisamos que insistam um pouquinho...
Descobrimos que um sorriso pode produzir milagres... e uma lágrima também!
Não há nada mais comovente que uma mulher que chora, ou um sorriso que pode desarmar qualquer homem...
Damos à luz sob uma dor terrível e esquecemo-nos imediatamente dela depois de termos o nosso anjinho nos braços.
Corajosas, frágeis e fortes, vamos à luta sem capacete e sem espada.
Temos um coração ao lado do cérebro.
Não temos músculos, temos garra.
Quando oferecemos um presente a nós próprias, não é porque temos a mania compulsiva de gastar, mas sim porque nos queremos consolar de alguma coisa que falta na nossa vida.
Somos os nossos próprios anjos protectores.
Como mulheres, agimos como mães, para os outros e para nós mesmas.
Não buscamos igualdade!
Mesmo que quiséssemos exercer as várias profissões, como eles, há emoções que correm como turbilhões dentro de nós que jamais poderão ser experimentadas pelo sexo oposto: há a dor e o prazer de oferecer a luz do dia a um anjo!...
Não... jamais haverá igualdade!
Cada um faz sua parte, cada um tem a sua importância, nem menor, nem maior, mas todos somos importantes.
Senhores!!! Não estamos à espera de príncipes encantados montados em cavalos brancos!
Há muito entendemos que esses só existem nos contos de fadas.
Não nos preocupamos com músculos e caras, queremos, nada mais, nada menos, alguém que nos possa amar.
Parece complicado e, no entanto, é tão simples: só precisamos ser amadas!
O resto inventamos depois!
Dentro de nós habita uma fadinha romântica que nem os desenganos nem os anos poderão matar.
Talvez seja essa uma das diferenças básicas entre um homem e uma mulher: o duende morre mais rápido, morre depois da conquista...
Nós, mulheres, seremos sempre... jovens, idosas, maduras, imaturas,
belas, feias, charmosas, mimadas, vaidosas… e sempre, sempre, vai pulsar no nosso peito esse coração de mulher.
Coração que ninguém entende... mas que sabe muitas vezes adivinhar a vida!