"Eu não sei largar coisas da mão assim. Assim, como me pediste. É defeito dos grandes, dos graves mas, por mais que reme contra a maré, ela é forte demais. Descubro-me sempre aqui, de remos exaustos e braços dormentes de esforços que não são meus. Ou será que são? Às vezes sinto que só tento por ti, porque um dia me convenceste de que assim estarei melhor. Sabes que mais? Não estou. Porque não sei abrir mão daquilo que tomei como meu. Porque não sei apagar tudo o que ainda dói, como pequenas pedrinhas de alcatrão incrustradas nas feridas que me cobrem o corpo. Íamos numa velocidade estonteante e de repente, sem nada que o fizesse prever, travaste. A fundo. Sem dó nem piedade. E o meu corpo tornou-se o alcatrão quente, guardando com ganas de conquistador um grito, nem sei bem se de revolta ou de medo. Como é que se brinca a isto? Por favor ensina-me.. É um pedido de olhos rasos de água. Vê em mim o cansaço em cada linha do rosto e um esboço de quem só quer ser feliz outra vez. Não em ti, não em nós. Em mim. E, se eventualmente isso significar que em mim estás tu, então volta. Estou cansada de remar sozinha e andar à deriva corta-me os sonhos."