domingo, 6 de janeiro de 2008

Infelizmente é assim!

Há uns dias atrás, aquando da Grande Entrevista de Judite de Sousa a Carlos do Carmo, apercebi-me de uma grande “falha” dos jovens desta geração, à qual pertenço. Posteriormente à entrevista pus-me a pensar nesta minha geração, e percebi que não é, de todo, a geração com a qual me identifico. Os sinais saltam a vista: a cultura musical, a escrita e os hábitos de leitura dos jovens de hoje é algo que deveria preocupar toda uma sociedade.



Fado de Carlos do Carmo
Letra de José Carlos Ary dos Santos
Interpretação de Paulo de Carvalho


Começando pelo que me fez despertar a atenção: as palavras de Carlos do Carmo em relação ao conhecimento, por parte dos portugueses, do que é o fado. Segundo o mesmo: “O fado é uma canção que tem, basicamente, um defeito: os portugueses sabem muito pouco dela. Se você falar com 100 pessoas, vai constatar que 98 lhe vão dizer que, uns gostam, outros assim assim, outros não. Mas sobretudo o que lhe vão dizer é: mas percebo muito pouco, não sei quase nada. Ora isto faz pouco sentido, porque estamos a falar de uma canção de uma gente (…) que tem no mínimo século e meio de existência. Saber disso não é nada do outro mundo.”.
Na realidade, a maioria dos jovens não sabe o que é o fado.
Basta perguntar a um jovem que passe na rua um nome de um fadista ou um nome de um fado, que nos apercebemos do estado de cultura do povo português. Para muitos esta questão pode não ser relevante. Para mim é. Termos nacionalidade portuguesa e não sabermos o que é o fado, arte pertencente à nossa cultura é, para mim, vergonhoso.
Ainda segundo Carlos do Carmo: “Não me sinto decadente (…) sinto, por vezes, algum cansaço. Cansaço esse que não tem a ver com o meu público (…) é esta nossa falta de cuidado com a arte. Nós não temos possibilidade de nos emanciparmos sem isso. Não venham com conversas só de avanços tecnológicos (…) Avancem com a essência das pessoas: ponham as crianças ligadas à arte (…) serão crianças que irão ficar muito mais preparadas para a vida. Enquanto não o fizerem, enquanto isto tudo for estranho e falarmos com uma pessoa e dissermos assim: “Olhe vou cantar agora o fado Pêro Rodrigues” e nos responderem: “O que é isso, desculpe lá que eu não sei” (…) Um português dizer que não conhece é grave. É uma coisa que não me causa algum, causa-me muito desconforto.”.

O modo de escrever dos dias de hoje é algo estranho. Embora também já tenha sido “adepta” dessa “forma” de escrever, compreendi que não trás muitas vantagens para cada um de nós. Uma coisa é abreviar as palavras, outra é inventar uma nova “forma” de escrever com “x’s” e “k’s”. É que passado algum tempo, quando queremos escrever bem, já não conseguimos. Não cheguei a esse ponto, mas ouvi, aqui há algum tempo, uma professora a comentar que os alunos já não sabem como escrever certas palavras: «… por exemplo a palavra chegar: já não sabiam se se escrevia com “x” (como escrevem em sms’s e no mns) ou se era com “ch”».

Em relação aos hábitos de leitura, sei que é pessoal, embora ache que se a palavra “ler” tivesse estado mais presente na infância de alguns jovens, hoje seria algo mais comum. Ficaram-me na memória as palavras de um colega meu quando viu a quantidade de livros que tenho em casa: “Tu lês? Pensava que era o único”. Infelizmente não é um hábito comum nos dias que correm, o que está a fazer com que as pessoas, cada vez mais, se sintam incapazes de imaginar. Só com um livro se desenvolve essa capacidade, pois em todas as outras actividades (cinema, televisão, …) já está tudo “feito”: é assim.


Só em jeito de conclusão, e para os que se identificam com este texto deixo-vos aqui aquilo que, pelo menos, deveriam saber: a palavra fado vem do latim fatum, ou seja, "destino"; existem três tipos de fado: o menor, o mouraria e o corrido.

Posso não vos ter cativado, ainda assim façam uma pequena pesquisa (na wikipédia) e encontraram, de certeza, coisas que não sabiam.

E já agora, preservem o que de melhor há em Portugal (o que é nosso). Se não formos nós, jovens, a fazê-lo daqui a uns anos não restará nada, o que é uma pena!